Quando Lara Canro decidiu participar de um desafio de idiomas no Instagram, ela não imaginou que iria fazer tanto sucesso. Na época, a intenção da baiana era mostrar que falava cinco línguas, mas a curiosidade acabou atraindo muitos estudantes interessados no assunto. Agora, ela usa a visibilidade para compartilhar dicas e ajudar essas pessoas. Cerca de um ano depois, o conteúdo já rendeu mais de 500 mil seguidores na rede social.
“Eu fiquei super assustada no início, mas depois uma galera começou a me seguir, perguntando: ‘Poxa, você é tão nova, como você estudou?’. E eu comecei a gravar uns vídeos respondendo essas perguntas, e eu percebi que era uma coisa que as pessoas gostavam, e que eram coisas que ajudavam as pessoas, e que motivavam as pessoas também. Isso serviu para mim. Eu comecei a pesquisar mais sobre sites que eu poderia utilizar e também passar para as pessoas, e aí começou esse processo de curadoria. Por trás do Instagram tem todo um trabalho de pesquisa”.
Nascida em Teixeira de Freitas, no sul da Bahia, Lara foi criada pelos avós maternos, enquanto a mãe morava e trabalhava na França para ajudar a família. Curiosa e atraída pelo estudo linguístico desde a infância, ela começou a aprender sozinha os idiomas que fala. No processo, a estudante usou várias fontes de conhecimento, como livros, filmes, séries e músicas.
“Para mim, esse lance das línguas sempre foi muito como uma diversão. Sempre foi algo divertido, um hobby, um mundo que eu estava descobrindo. Eu gosto muito de pensar que cada língua que você aprende é um mundo novo que você conhece”.
Foi com base nisso, inclusive, que surgiu o interesse pela área. Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, Lara revelou que ficou intrigada com a dublagem de uma telenovela aos 6 anos. Ao perceber que o movimento da boca dos atores de Rebeldes – sucesso dos anos 2000 – não batia com o som em português da dublagem, ela questionou o que estava acontecendo e, depois, a curiosidade só cresceu.
“Eu comecei a estudar idiomas em 2013 de maneira séria, mas eu sempre flertei com línguas. Sempre gostei de idiomas. Acho que tem um pouco a ver com minha mãe. Quando eu descobri, em uma certa idade, que existia a possibilidade de você se comunicar com outras pessoas de diversos jeitos, em países diferentes, eu comecei a entender que em outros países se falavam outras línguas”.
Agora, aos 22 anos, além de português, a baiana também é fluente em inglês, francês, espanhol e italiano, e está aprendendo árabe. E não é só a lista de línguas que a jovem fala que é extensa. Lara já passou por muitos lugares ao longo da vida, cumprindo uma premissa que tem nos estudos: conhecer a cultura do idioma que está aprendendo.
“Eu costumo dizer que aprender uma língua é se imergir na cultura da língua que você está aprendendo. Então, não é só decorar um monte de palavras. Você precisa também se inserir um pouco na cultura”, contou.
“Também tem um pouco de tentar se divertir no processo. Não é aquela coisa engessada que a gente aprende na escola. Esse sistema que a gente senta em uma sala de aula com 30 pessoas, ou mais, e abre o livro, faz uma atividade… mas o ensino de línguas vai muito além disso. É o processo de se divertir com o aprendizado”, completou.
Mas se engana quem acha que a jovem consegue administrar todo esse conhecimento sempre. Durante a entrevista, ela revelou que se atrapalha às vezes, e que isso é comum, por causa da origem de algumas das línguas que domina. “Eu me confundo muito, principalmente porque quatro dos idiomas que eu falo são línguas latinas, que vêm da mesma vertente. Só o inglês que pertence a um outro ramo linguístico. E todas elas têm palavras semelhantes”.
Atualmente, a baiana divide a residência entre Salvador, onde é aluna da Universidade Federal da Bahia (Ufba), e Paris, cidade na qual a mãe mora. Lá, já chegou a passar por situações de racismo e xenofobia, por falar português na rua.
“Na França, especificamente falando, não é tão diferente em relação ao racismo. A gente sabe de toda a estrutura de países colonizadores. A França tem um contingente altíssimo de pessoas negras, mas não é diferente com relação ao racismo. A gente percebe que o olhar que pessoas brancas têm para pessoas negras é um olhar de desprezo. É bem complicado, bem tenso”.
Em contrapartida, Lara conta que a comunidade negra também é unida na França, e isso fortalecendo a resistência no país. “A cultura negra é forte. As culturas africanas são fortes. A gente têm bairros e, especificamente nesses bairros, a gente tem várias coisas legais acontecendo. Vários eventos culturais que exaltam a música, a beleza…”.
E é por causa dessa relação com o país e com a mãe que decidiu se especializar no francês. Em breve, ela começará a estudar o idioma mais a fundo na Ufba. O objetivo é seguir dando aulas, enquanto conhece novas línguas. Algo que ela já faz com o inglês desde 2019.
“Eu dava aula de inglês para pessoas mais próximas, para conhecidos, mas aí eu fui expandindo com isso do Instagram. Mas a ideia central agora é me especializar no francês, por causa da minha relação com Paris. E a ideia é me especializar e seguir nesse caminho. Não dá para a gente abraçar o mundo. Se você é especialista em muita coisa, você não é especialista em nada”.
Assista o vídeo : https://www.instagram.com/reel/CcT4dh5DdP1/?utm_source=ig_embed&ig_rid=349c4a9b-6df9-45b1-991c-319363e0cf17
Fonte: Ibahia